Tecnologia inovadora é segura para os seres humanos e já mostrou eficácia em diversos países; insetos são infectados com a bactéria Wolbachia.

O Brasil deu um passo inédito no combate às arboviroses ao inaugurar, neste sábado (19), em Curitiba, a maior biofábrica de mosquitos do mundo. A nova tecnologia será usada no enfrentamento da dengue, zika e chikungunya.
Na fábrica, centenas de larvas de Aedes aegypti se movimentam em recipientes e passam por máquinas que as separam por sexo: fêmeas, maiores, e machos, menores. Mas esses insetos não vieram de locais com água parada — são produzidos sob rigoroso controle técnico na capital paranaense.
A diferença está na bactéria Wolbachia, presente nesses mosquitos. Inofensiva aos seres humanos, ela impede que os vírus da dengue, zika e chikungunya se multipliquem no organismo do inseto, reduzindo assim sua capacidade de transmissão.
“Fazendo a liberação desses mosquitos em campo, eles vão substituir a população de mosquitos ali existentes que transmitiam as doenças por esses mosquitos que não vão transmitir”, explicou Luciano Moreira, diretor-presidente da Wolbito do Brasil, organização responsável por trazer a tecnologia ao país.
A expectativa é de que a biofábrica produza 100 milhões de ovos por semana – o que equivale a mais de 5 bilhões por ano. A distribuição dos mosquitos será feita conforme critérios do Ministério da Saúde, com base na incidência das doenças em cada região.
“Os agentes de saúde, eles vão duas pessoas por carro, por veículo, um dirigindo e o outro pegando esses potes e soltando, liberando esses mosquitos pela janela do carro, andando na velocidade bastante baixa ali para liberar os mosquitos”, narrou Moreira.
“Nosso foco serão as cidades prioritárias, com maior risco de transmissão de dengue em 18 estados do nosso país com o objetivo de protegermos 140 milhões de brasileiros com a distribuição desta tecnologia”, afirmou o ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
Segundo os pesquisadores, o método é seguro, não utiliza produtos químicos nem modifica geneticamente os insetos. A eficácia já foi comprovada em países como Austrália, Vietnã e Indonésia.
No Brasil, a cidade de Niterói foi pioneira na implantação do método, há dez anos, sob coordenação da Fiocruz. O resultado foi uma redução de até 70% nos casos de dengue, além de quedas expressivas nos registros de zika e chikungunya.
A iniciativa, aprovada pela Anvisaerecomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), é uma aliada importante, mas não substitui os cuidados tradicionais.
“A população tem que fazer sua parte, cada um tem que cuidar do seu quintal. Então, tirar aquele tempo, 5 minutinhos por semana, para observar se não tem nenhuma larva em casa, para a gente realmente acabar com esses focos. Isso não muda”, alertou Antônio Brandão, gerente de produção da biofábrica.

FONTE G1